terça-feira, 6 de abril de 2010

[Cronicas da taverna] : Velho mundo Novo

Este é um capítulo confuso de minha vida.

Poderia estar tudo desajustadamente ajustado, mas não. está o inverso. bem contrário mesmo. está tudo ajustadamente desajustado e ponto.
Todas e quaisquer dúvidas minhas sobre o que era, o que não era e o que não é (e possivelmente nunca vai ser) foram sanadas durante esses quase tres meses no mar. Sim, foi lá que eu fiquei só, fiquei junto, abatido, enjoado, esperançoso. foi lá (em alto mar) que eu naveguei... e foi lá tambem, que eu naufraguei...



se eu fosse resumir tudo, passo a passo com a "tal raposa" não seria um diário, seria uma biblioteca, mas não me resumirei a isso, pois este não é o alvo nesta noite em que te escrevo, tão pouco tenho moral para voltar a escrever em vós tão abertamente. Em fim, fica embaixo d'agua o que no naufrágio se foi...

Após embarcamos na cidade do porto, e ter aprendido aquela lição, me coloquei a pensar sobre as lacunas em que não vivi eu na companhia de minha raposa. sobre o muito pensar, acredito eu que isso "atraia" de certa forma "a resposta". Foi quando depois de um dia cansativo de capitania do navio amurruá tomei direção aos meus aposentos (próximo a possivel sala do capitão, que era pra ser minha) e fiquei a pensar em tudo. não tardou muito e minha raposa apareceu lá, diante de mim. com os cabelos ruivos, pele branca e olhos... o que havia com seus olhos? - perguntei eu a ela. pelo que um pouco tonta ou soluçando (não sei) me respondeu. tome isso devolta. deves tornar ao seu mundo. naquele momento não compreendi, estaria sendo dispensando de meus deveres de capitão? estaria eu perdendo a chance de te-la de novo em meus braços? ou apenas... não... isso não. mas seus olhos não eram os mesmos. havia uma coisa nova, forte e muito diferente neles. eu peguei o tal caderno vermelho e todo amassado e fiquei a olhar nos seus olhos...




ao que ela estourou em lágrimas e contra mim grigou: NÃO VAI LER NÃO? É O SEU DIÁRIO!
confesso que não compreendi até segurar o antigo barbante que prendia a capa e as folhas. quando toquei-o, era como se tudo que eu já estivesse escrito nele fosse novo para mim, mas que num passar de segundos eu já hávia recobrado todo o conhecimento. acredito que poucos seres humanos já tenham experimentado tamanha viagem dentro de si.



mas haviam outras coisas a mais que eu não havia escrito. coisas tristes demais para serem verdade. então fiquei a observar as páginas, tentar enxergar as letras, comprender as anotações na verticais...

quando por fim em lágrimas olhei para a raposa e disse: Raposa, minha raposa, o que foi que você fez? - pelo que "aquela mulher" olhou para mim e disse com uma voz envergonhada: - senhor Ladreau, queira nos perdoar, infelizmente NADA disso existiu. o tesouro, o barco a familia, a sua senhora... não estão mais aqui. todos neste barco são atores e atrizes que estão em um local como num espetáculo seu. cujo apenas há um propósito... - subtamente o barco sofreu uma batida de encontro com uma rocha pontiaguda em meio ao oceano (como? sinceramente eu não sei) , mas foi o suficiente para aquela moça bater acabeça no chão e desmaiar. de inicio é claro que eu pensei que fosse mais um dos truques dela (já que se tratava de uma artista), mas logo o sangue não deixou o "blefe" se realizar. desesperado e com a moça no colo, corri para a proa do navio chamando todos. mas já era tarde. o navio já havia assinado o seu fim naquela pedra e muitos homens já boiavam em alto-mar desesperados por causa da bravura das ondas. tentei segura-la o máximo que pude mas apenas vi uma onda muito maior que o mastro do centro estilhaçar o barco como quem desfacela uma palha... me jogando para longe e separando-a de mim, lentamente. aquela ao qual nos últimos dias sonhei ser a minha raposa.

definitivamente o ódio do engano naquela hora não era maior do que a dor da perda de "mais uma raposa". então perdi a consciência e naufraguei....



Quando acordei, estava devolta a praia em que eu partira. tentei listar uma possivel lógica que me traria devolta, mas nada "lógico" me veio a mente. em fim... lá estava eu... novamente. na areia da práia, na estaca Zero. sem o aventureiro alto-mar, na cidade velha, sem a raposa... minha raposa...
A unica coisa que sobrou foi um barril de vinho do porto. que ao ser levantado rompeu-se deixando todo a "sortuda" areia banhada do magestoso líquido. então "tudo era um nada" mesmo!

tentei me levantar mas não consegui. apenas o suficiente para me arrastar até a parte debaixo do cais e descansar na sombra. exausto... e com frio. muito frio...
a noite chegou como num piscar de olhos... (ou teria eu dormido?), quando derrepente consegui cambalear até a parte superior do cais encontrar com um marujo que de lá vinha.
estranhamente o marujo me saudou: olá amável senhor. aceita? ... irc... - ele estava bêbado, é claro... bem... claro que aceitei o rum, o casaco o chapeu e as duas pistolas espanholas que ele levava. não podia deixar passar tão barato assim! confuso entre a furia selvagem de ser enganado e a loucura de pensar que todo aquele lugar em que se vivia não se passava de um cenário, resolvi começar a acabar com todos os "figurantes", um a um. nisto, saquei a pistola e apontei para a cabeça do marujo que no susto recuperou a sobriedade, mas a voz presa continuava a mesma. "pelamordedeusmoço... irc... faz isso não..." puxei o gatilho com o dedão e ele então se ajoelhou e com os dedos cruzados (e a garrafa entre eles) se puna a rezar enquanto chorava num estridente IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII, (folego), IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII... sim, eu ia puxar o gatilho, se não tivesse lembrado da triste cena em que eu (novametne, aspirante a assassino) estava com a espada na garganta do velho fidalgo portugues por causa de uma pergunta que nem ele sabia a resposta...
antes que eu puxasse o gatilho, um grupo de cavaleiros passaram correndo a beira mar. então mais que de pressa eu guardei as armas, eles passaram e então eu vi uma segunda figura. era o marujo que em geral me ajudava no bar quando estava por estas bandas: Jimmy london.



ele se aproximou, abaixou minhas armas e jogou o bebado no chão.
seu olhar tambem era "outro", mas antes que alguma exclamação violenta de minha parte estourasse na cara dele, ele me interrompeu dizendo: por um acaso você tambem é um figurante, ou parte integrande dessa cidadezinha que pra mim mais parece um cenário de ciganos de rua? - Meu Deus! Jimmy tambem havia sido manipulado o tempo todo! é claro que minhas duvidas não mudaram em relação a TODOS, TODOS da vila. Mas o brilho nos olhos de Jimmy não era de mentira, mas de desapontamento por terem mentido para ele tambem. então eramos dois.

feliz como quem encontra o pai, abraçamo-nos fortemente e com os tapas nas costas e um sorriso de alívio perguntei: e ai? quantos ja matou? ele colocou a mão na barriga e disse: das suas garrafas de tequila lá da taverna? já foram 8.... - tá ele não entendeu o que eu perguntei, mas, tudo bem. pegamos a garrafa do marujo e nos sentamos a beira do cais. Jimmy ainda continuava atonito com as movientações mesmo no cais, que era o lugar mais calmo da vila.

- Poxa Jimmy relaxa! - era claro que eu já estava cheio de rum para soltar uma dessas exclamaçoes.
- não Sr. Rapouso, é que devemos tomar cuidado com esses homens. foram eles que tomara todas as coisas da sua falecida esposa, incluindo castelo, terras, criados, animais... até sua taverna foi interditada.
- O que? interditada?
- exatamente. é isso que eles disseram que iriam fazer hoje a noite.

bem, é claro que o assunto não ficou só nisso. Jimmy me passou um breve relato de tudo que a conteceu nos ultimos tres meses por aqui. contou-me tambem que esses novos nobres haviam sido arregimentados por um rei cujo objetivo era enfraquecer a vila e governa-la, me fastando uma vez que havia outras partes de heranças para mim. Me disse tambem que essa armação parecia ter muito mais coisa do que imaginava... bem enquanto ele falava essas coisas eu é que imaginava esse grupo de artistas que morreram no barco comigo.

bom. dotado de pouco a mais de rum... dei um tapa em minha própria coxa e disse: bem... agora é hora de retomar o que é....MEU!

Jimmy foi comigo, mas a meu pedido não o fez nada. chegamos lá na hora certa. estavam terminando as ultimas tábuas.



dois tiros e uma espada suja de sangue foi o saldo real desta noite. arranquei as tábuas no chute e abri a antiga e pesada porta... nada mais havia lá em baixo. desci, e jimmy me seguiu. antes que ele disse qualquer coisa eu olhei pra ele e disse: SSSSSSSHHHHHHHIIIII... silencio. dei um "toc toc" na pedra, e saquei o alçapão falso onde escondia meus diários.



Jimmy até entendeu a questão de esconder uma coisa pessoal, mas uma coisa que toda uma tripulação leu, se eles quizessem, eles poderiam voltar você e fazer o que quizerem. é claro que Jimmy Não sabia da natureza do diário e nem que o mesmo desponta um conjunto de documentos, provas e assinaturas do que me dão acesso único e exclusivo ao banco como um todo. daí o perigo de eu ser caçado até pelos Pais dos outros nobres.

da noite que passei ali naquilo que outrora fora uma taverna, pedi a ajuda de Jimmy para que organizasse e limpasse a taverna. os assoalhos foram arrancados, fazendo da taverna uma entrada muito mais parecida com uma masmorra, dependendo assim de descer as escadas para uma espécie de porão, mas lá já era a taverna.

neste antigo "porão" ficavam os livros que a raposa (a verdadeira) me deixou de presente, com os cadernos vemelhos que seriam meus diários e a coruja qeu lá vivia entre umas folhas rasgadas. como tudo já hávia "visto a luz do sol" não havia problema levar a taverna para baixo.
Tudo estava pronto, enquanto isso eu avaliava os nomes, contatos e porçoes à receber escritos nos diários.



passado algumas semanas... numa certa noite, me encontrei com Jimmy e lhe pedi que me seguisse pois precisava de proteção e a juda. é claro que Jimmy disconfiou que eu estivesse paranóico, mas tambem não é pra menos. bem... algumas quadras vila a dentro, e batemos numa pequena porta de madeira de onde saiu um velho com um pouco menos de um metro e meio:

-posso ajudá-los?
-sim, eu sou D. Rapous.....
-Ah sim, "o viuvo" não é? achei que não viria mais buscar sua quantia!

definitivamente eu estranhei a ação do velho, mas como se tratava do mesmo assunto que o motivo da minha visita, não liguei para asperosidade em que fui tratado. ao que o velho disse:

-entre e pegue! esse moço tá com o senhor?
-sim... entrei a passos largos na casa em direção as sacos no fundo da sala.
-então fale para não pegar os sacos com serragem, só os com as pedras...

Ri um pouco da "desgraça" de jimmy, mas o mesmo não compreendeu novamente a piada e levou 4 sacas com as "pedras" para mim, eu apenas duas e já estava exausto.

Não é necessário notar a obviedade que as tais heranças da raposa eram pedras brutas, mas puramente preciosas. os verdes olhos de jimmy olhavam para aquele rubi como um lobo olha o cordeiro... então eu disse:

-não é belo o qeu vês?
-si..sim!
-então meu marujo! levai! é vosso!
-não Sr. Ladreau... eu não poderia... - nessa hora tive que apelar...
-Se o Senhor não leva-las, vou estilhaça-las na rua...
-pode faze-lo! não são minhas!... - desanimado pensei na ultima tática.
-tive uma idéia Sr. london! tome conta delas para mim! "faça mais delas" aparecerem e ai estaremos ambos bem! - um sorriso despontou-se debaixo daqueles bigodes ruivos e o gigante marinheiro deu um tapa na mesa!
- Perfeito D. Ladreau! perfeito




tambem não passou muito tempo e jimmy multiplicou todo o investmento que eu havia "doado" para ele e ele mesmo não o sabia.
numa tarde, andavamos a cavalo e ele me perguntou quando eu viria para governar aquela terra. eu disse que não era mais minha, ele triste pensou que teria que deixar um local que a muito cultivou com tanto carinho. mas um sorriso lhe saltou os olhos quando eu lhe entregara a escritura de todas as minhas posses adquiridas através da herança de minha estimada raposa.

"não é isso que eu quero Jimmy, é apenas uma vida simples, na taverna, servindo, ouvindo, bebendo, limpando..." é exatamente isso... talvez nem com a raposa eu daria certo hoje em dia. (subtametne me deu um estalo na cabeça....) não me senti muito bem, e disse que retornaria ao haras. deixaria o cavalo mais cedo... mas que era para ele aparecer na taverna qualquer hora para degustarmos um pouco dos novos barris que chegaram lá.



a noite se aproximou e então eu me dirigi para "A TAVERNA DA RAPOSA". As ruas fétidas como sempre ambientavam aindan mais o sombrio clima em que rondava aquele bar com seu possivel aspécto de masmorra. me aproximei da porta para abrila, mas logo na portinhola vi luzes acesas. pensei no pior; abri a porta e a taverna lá em baixo já estava cheia. homens, mulheres em busca da mais pura farra! quando me viram lá de cima, com o sobretudo e o chapeu triangular se colocaram de pé, limparam os bigodes com as mangas e se poram a aplaudir como se tivessem visto um Rei.



Confesso que nao entendi, na verdade acho que comecei a entender, quando olhei para o balcão e vi a gigante figura ruiva lustrando o fundo de uma caneca com um pano.

Tudo prosseguiu normalmente durante mais uma "noite na taverna". mas uma figura me chamava a atenção. era uma mulher linda de cabelos escuros cacheados e de pele morena.
Enquanto eu servia as mesas, cortejava-me com os olhos, e eu por um sentimento cavalheresco, a retribuia reclinando a cabeça. não tardou muito e ela se dirigu a porta...
lá em cima eu fui apenas dar as boas vindas da taverna e deixa-a a vontade, quando subtamente fui surpreendido por um beijo que me retirou os pés do chão.
e ela (em seguida) saindo correndo disse algo que eu não pude entender.



bem... algo estranho acontecera comigo, sentia-me bem, mesmo entrando na taverna "DA" raposa. pois hoje em dia não há mais nada dela, o que há aqui são as memórias. jamais apagadas, mas são memórias, passadas, que tambem ficaram para trás assim como as que estão no fundo do mar.



respirando mais leve fui até a balcão para contar para Jimmy do acontecido, que por sinal tambem me recebeu muito bem. tudo estava bem e a taverna bem cheia, quando de relance pensei ter visto minha raposa sentada no fundo entre as mesas mais reservadas com o chapeu e triangular e evitando me olhar... tive a sensação : "de alguma forma eu sei que ela ainda está lá. me olhando..." mas, uma caneca de cerveja holandesa passou na minha frente e persebi que era apenas uma visão minha mesmo... esfreguei os olhos e levei a caneca a mais um cliente!



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UMA NOTA DO AUTOR: Aos que me conhecem, sabem o quanto tenho minha vida ligada a arte de uma forma geral. Não que eu seja profundo conhecedor dos traços de davinci ou perseguidor das esculturas de miguelangelo, ou tão pouco dos mais belos textos de shakespeare. Mas, de um jeito singular estou ligado ao "expressar". privilégio este que já me conferiu a honra de ser volcal de uma banda, ou participar de teatros ou oficinas de criação. Atualmente me realizo profundamente com o dom de narrar histórias sobre os sistema de RPG para um grupo de amigos que tenho a honra de considera-los "matilha". mas ainda havia algo que eu mesmo me privei... O escrever. no erro de considerar todo exemplo o mesmo e inexplicavelmente igual em todos os casos, deletei este blog, mas depois de um tempo descobri que não hávia excluido-o definifivamente (uffa). com todo carinho a criação dos contos e desbafos desta vida, retomei a escrita na qual coloco o coitado D. Rapouso Ladreau em certas "frias" ou devaneios depressivos mesmo.
De fato não poderia negar nunca que há um pouco de Rene William na figura de D. Rapouso... certo... há MUITO de Rene na figura de D. Rapouso. mas apenas fique com a minha dica: não tente encaixar os fatos, não tente encontrar os personagens andando por ai na vida real ou se relacionando com o autor.
É de "quase" conhecmento geral que a Raposa é a musa inspiradora do Sr. Ladreau, e nem por isso hoje (eu, Rene) estou com a mesma pessoa de quando comecei a escrever os contos.

para ser mais claro, prefiro Plagiar meu amigo Folha-de-outono quando se refere a "par-perfeito" no orkut:

par perfeito:A quimera que vive em meus sonhos, com retalhos das várias mulheres que conheci em minha vida. Uma criatura ideal e perfeita, que só existe dentro de minha mente e no plano ideal, onde de lá não pode sair sem arriscar sua vida ou meu apreço. Ela vive só para mim, eu vivo só para ela; feita com costuras e remendos, e de traços únicos, é minha equação perfeita que completa.

Não espero que comprendas o que eu disse, apenas queria deixar o meu recado!


Esta nota é uma forma de creditar os diretos autorais.
As imagens contidas nesta postagem referem se a obra denominada "le scorpion" pertencentes aos autores Enrico Marini (arte) e Stephen Desberg (roteiro). não possuem o fim lucrativo, degradação da imagem do personagem e nem o intuito de roubo de direitos autorais.