Noite fria aqui no cais, não há um homem dentro desta taverna que não esteja fungando. é como se os ventos que vem do mar fossem armados de espadas e não existe casaco ou escudo que possa nos defender.
É assim que eu posso definir minha taverna nos dias de hoje. Meu Vinho que sempre em boa temperatura é servido machuca os dentes de uns e mata de gastura outros, a lareira ali no canto do balcão é invejada por todos, mas não serve de muito pra alguém como eu que tem que descer todas as horas à área das garrafas. Como estão geladas! Mas mesmo assim a taverna continua com o seu bom movimento.
De certa forma tudo poderia continuar como um dia simples e comum, se não tivesse entrado por aquela porta um sujeito muito estranho para se dizer.
Entrou a passos largos, magros e longos. Rodeou uma mesa vazia como um cão que se prepara para deitar e sentou-se. Tirou da bolsa verde que tinha entre as pernas um livro grosso, porém pequeno e pôs-se a ler.
De fato não era "a garota que pára o baile", mas como o taverneiro eu preciso ficar de olhos em todos, não pude deixar de notar sua excêntrica presença. Pois bem continuei servindo os outros, afinal de contas, como regra da casa o cliente pede a bebida, senta-se e espera que eu o sirva. Mas não é de meu costume ir perguntar o que o mesmo quer.
Passaram uma, duas, três, quinze páginas e o mesmo não se pronunciou. Retirou um longo cachimbo de madeira envernizada, acendeu-o deu duas boas baforadas e continuou a leitura. Aquilo me intrigou! Cachimbo estranho... Mas com os muitos afazeres continuei a servir e ele a ler.
Tarde da noite o frio não atacava somente com espadas e lanças, mas com blocos grandes (senão Gigantes) de neve e a taverna já estava apenas com os seus clientes mais antigos (diga-se de passagem, mais chega
dos). Neste tempo o estranho se levantou. Marcou com os dedos a página que parou, estiou o cachimbo numa das fendas da mesa e caminhou até o balcão onde eu me encontrava próximo às lenhas da minúscula lareira.
- Por favor, sirva-me um pouco de café.
- Uhum... - baixei-me e peguei a velha moringa feita de barro com o café frio e despejei uma boa dose dentro do caldeirão que sempre ficava em cima da lareira só para re-esquentar um pouco. Minutos depois... - aqui está.
Sem desconserto nenhum ele apontou para as garrafas atrás de mim e disse:
- Você tem Whiskey aí?
- Claro - achei estranha a pronúncia, mas peguei a velha garrafa um pouco acima de seus dedos e coloquei no balcão.
Ele ficou um pouco despontado quando olhou para a garrafa, mas logo o sorriso re-abriu quando disse:
- pega aquela lá de cima pra mim?
- qual? Essa?
- não! Aquela mais acima...
- essa aqui? - já me irritando..
- essa com o trevo aí desenhado na rolha... Isso! Essa mesma.
Trouxe a garrafa até o balcão e me virava para subir na pequena escadinha para guardar a outra quando ouvi o barulho do levantar da rolha. Subitamente me virei para chamar-lhe a atenção (afina quem serve as bebidas aqui sou eu), mas parei em choque quando o vi colocar uma rápida dose de Whiskey no café, e com uma sobrancelha levantada, a longa barba negra e o esparso bigode loiro, me disse sorrindo:
- Você não teria por aí um leite mais batido ou cremoso não. né?
Confesso que em outros tempos eu já teria juntado qualquer folgado que SE servisse em minha taverna e ainda me perguntasse se eu tenho leite. Mas como o dia era frio eu resolvi fazer uma exceção, sorrir da mesma forma (com a sobrancelha levantada também) e dizer:
- tem um leite aqui sim, mas de tão velho parece estar até mais grosso.
- é exatamente dis
so que eu preciso.
Sem delongas o estranho pegou a botija de leite grosso e deu uma boa sacudida nele.
Pensei: pronto! Agora só falta me jogar toda essa mistura maluca. Demorou um pouco mais e depois de misturar o Whiskey no café quente despejou um pouco deste leite cremoso em cima. Enquanto me dizia: Whisky é só o escocês; WhiskEy é Irlandês!
Confesso que ficou bonito o negócio, mas não era pra mim. Tomou a liberdade de pegar na minha frente um copo limpo que estava no fim do balcão, dividiu aquela estranha mistura em dois copos e me serviu.
Retornou para sua mesa, limpou o cachimbo, recolocou mais fumo, voltou a ler.concluiu a leitura e voltou para me agradecer. Repousou no balcão duas moedas grandes com escritas de países que eu não conhecia. Mas insisti em ficar com apenas uma e devolver a outra para ele em forma de pagamento. Afinal de contas. Há dias que se serve e há dias que se é servido!
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SALVE TAVERNANDOS!!!!!
Depois de longos tempos parados aqui na taverna, comemoro a alegre volta com este frio inspirador que tenho passado por essas bandas!
e não posso deixar de fazer menção de três pessoas: Ingrid (de quem a muito eu não falo, mas tenho muitas saudades!) de Epaminondas (meu aluno do 1º ano aqui em Eunápolis, que de uma forma filosófica e muito sábia me lembrou que eu tenho uma taverna e uma raposa em forma de blog pra cuidar), e de Pheddie Cadarn - Um irlandês exilado no rio de janeiro e conhecido meu pelas internets da vida! hehehe brincadeiras a parte, pedi para Phreddie que me mandasse uma receita de café irlandês pela net e prontamente ele o
fez. Como agradecimento, resolvi inseri-lo dentro do conto nesta noite.
Pois bem, a receita vai logo aqui abaixo então, sem mais delongas com vocês:
O CAFÉ IRLANDÊS!
O Irish Coffee é como um café de luxo. Sua concentração, beleza e complexidade explicam a fama de uma bebida quente feita para realmente aquecer os corações. E não basta emoção, é preciso estar preparado para tomar um bom café forte com um tradicional uísque irlandês.
o uísque irlandês é um uísque normal, só que feito fora da Escócia e, portanto, recebe o nome de “Whiskey”, com um “e” a mais. É assim porque “whisky” é apenas na Escócia. Nos outros lugares do mundo é “Whiskey”. Tem o mesmo efeito de “champagne” e “espumante”.
INGREDIENTES
27 ml de whiskey irlandês (pode ser o Jameson)
45 ml de café forte quente (expresso, de preferência)
18 ml de creme de leite fresco batido
1 colher de bar de açúcar (bailarina)
Utilize a taça para Irish Coffee. Aqueça a taça com água fervendo. Dispense. Misture o uísque, o café e o açúcar. Coloque o creme de leite batido por cima despejando sobre as "costas" de uma colher aquecida. Não misture novamente.
BEBA MUITO! E DANCE AO SOM DE MÚSICAS IRLANDESAS É CLARO!