Das poucas vezes que fechei a taverna, essa foi uma delas.
mas não foi para visitar o porto (embora estivesse tão perto para faze-lo),
tão pouco para encontrar um velho amigo (embora não tenha um por essas bandas, mas sempre há uma oportunidade para isso), em fim. Foi tudo isso, mas foi diferente.
Toda vez que eu ia buscar os barris de rum no fim da tarde no porto, me deparava com a figura do farol, robusto, na beira do penhasco. sempre ali pelas 18:00 horas ele ligava (exatamente com o primeiro bater do sino da capela na praça).... e isso me instigava.
como já estou a um bom tempo por aqui e o populacho dessa vila não passa de 3 mil pessoas (isso chutando alto), pre-suponho que quase todos já passaram por aqui. (vide as histórias anteriores), mas nunca um sinaleiro deu as caras nessa taverna... e estava ai outro ponto que me chamava a atenção.
mas o que mais me incomodava e me contorcia as entranhas a cada momento era acerca do imaginário que trabalhava a cada momento montando a imagem do sinaleiro.
"ah! deve ser aquele velho asqueroso bem rabugento!" ou melhor "deve ser um marinheiro sem as pernas por causa de um tubarão" na-na-não "deve ser um velho arqueroso bem rabugento, ex-marinheiro, sem as pernas por causa de um turbarão!" isso! é isso que eu vou encontrar ao chegar lá em cima! dizia isso a mim mesmo ao pautar sobre o assunto do sinaleiro : "poxa! eu não conheço ninguem aqui!, esse sinaleiro, eu nunca vi ele por essas bandas... bom. dois desconhecidos podem ser amigos! né? o,O" então vamos lá!
Esperei a semana toda, e nesse domingo me arrumei. coloquei uma garrafa de rum enrolada num algodão crúe a marrei a ponta da garrafa com corda de marinheiro (para ele assimilar o presente) e alí pelas 18:15 me dirigí ao farol.
foi uma longa caminhada pois o caminho já não mais existia e as pedras haviam tomado conta... (como elas foram para alí eu não sei!). demorou muito tempo até que eu me encontrasse no pé do farol... na porta havia algo escrito de lapís bem fino. aproximei a lanterna e então pude ler: "aqui, o silencio do vento reina..." tava na cara que ele não era de fazer barulho... e nem dava... pois daqui não se ouvia nada da cidade graças as ondas quese chocavam com a rocha... em fim...
abri a porta e comecei a suber as escadas... degrau um, degrau dois degrau tres... vinte, vinte e nove, quarenta e cingo, oitenta... (minha nossa isso não termina nunca)... cem, cento e oito degraus e eu vi a luz bem de perto.... hávia uma anti-sala abaixo do farol mesmo!
então estava eu lá: com uma garrafa na mão, a rapieira pendurada no lado esquerdo da perna (nuca se sabe) e uma curiosidade que eu vou te contar...
pigarreei baixo, e
batí na porta.
batí na porta
batí na porta...
nada ouví.
frustrado pelo fora da possivel amizade do marinheiro, deixei a garrafa na porta e pensei em partir, mas antes batí pela ultima vez. a porta estava a berta e no primeiro toque ela se abriu.
meus olhos não pudiam compreender corretamente o que se passava naquele quarto completamente pintado de grafite de lapiz, com algumas estrelas desenhadas no teto do mesmo. uma escrivaninha com um grosso caderno com uma pena do lado, um piano e uma cama com uma coucha cheia de retalhos escritos. ninguem no local... entrei a passos leves, e me dirigi ao grosso caderno (não sei porque me chamou a a tenção). logo na primeira página havia um longo sorriso desenhado a mão (=D), nem preciso dizer que neste instante minha mente já havia imaginado mil coisas. e então me dirigi a cama... me acentei... e quanto me acentei sobre ela percebi que havia algo em baixo... (não ... eu não sou de contar horrores por isso...) enfiei a mão debaixo da cama para puxar o que quer que aquele velho rabugento esteja fazendo lá em baixo (isso são modos de receber uma visita? - pensei)!
mas... oque é isso?
uma garota?
ela chorando correu em direção ao caderno do outro lado do quarto e abraçou-se a ele e me olhava por de tras dele...
-quem é você?
-...
- vamos! me diga! que é voce? eu não vou te fazer mal... - e a garota não fazia nada... -
para tentar acalma-la tentei ignora-la dentro de sua própria casa... caminhando dentro do quarto com as mãos para trás e um nariz bem empinado, quando de repente escorreguei num monte de lapís e caí de costas no chão... (aquilo doeu). a garotinha riu, mas quando eu olhei para ela, fechou a cara e fez um estridente sssssssssssssssssssssshhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh con o indicador tapando os lábios... não sei porque, mas ela parecia ter medo de alguem acordar ou algo assim.
com bons modos, esperei o suposto marujo voltar e fiquei ali a noite toda, sentado na cama e a garotinha do outor lado do quarto ... sem dizer uma palavra...
foi quando ali pelas 6:00 da manhã ( e eu já morto de sono) que a garota correu para a porta, e me trancou lá em baixo; segundos se passaram e o farol foi desligado.
eu comecei a entender o que se passava...
tornei a me sentar na cama e a garota chegou. aproximou-se de mim e falou bem baixinho:
- olá! não fale alto!
- certo (achando isso engraçado...), onde está o moço que toma conta daqui?
- não há nenhum moço. eu vivo aqui sozinha!
- OQUE?
- sssssssshhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!! (com as mãozinhas no ouvido)
- desculpe! oque? vc vive aqui sozinha?
- sim!
- mas você não tem medo?, você precisa sair.
- não... não tenho medo porque ninguem sabe de mim aqui, e não preciso sair porque só voce acha que eu preciso....
- mas voce não pode ficar aqui isolada... tem que conhecer as pessoas na rua...
- você não entendeu. eu não sou presa aqui! eu saio a hora que eu quizer, só que gosto daqui.
- mas você não tem nada aqui (esnobei)
- você é que não tem nada e veio buscar minhas coisas... PRA TRÁS!
- ssssssssssshhhhhhhhhhh (era eu agora. rs...) ei ei ei...peraí... não venho buscar nada... eu tambem não tenho muita coisa... mas conheço a rua, as pessoas...
- mas eu tambem conheço. só não quero ficar lá! aqui o silencio é ótimo. e eu tambem tenho o farol para trabalhar, o piano para tocar e meu caderno para escrever...
- bom se é assim... fique sendo! eu preciso ir... a propósito: me chamo Don Rapouso Ladreau.. e o seu nome é? - ela ficou em silencio... - não vai me dizer o seu nome não?
- eu já disse...
- ah sim! rs... o silêncio... bom... eu me vou... como é apenas uma garota... não posso deixar essa garrafa de rum aqui!
- não ... deixa sim! não vou beber! vou guardar de recordação de alguem que se preocupou comigo!
- mesmo mesmo? olha lá hein!
- mesmo mesmo! rs...
- tenha um bom dia!
- para você tambem!
voltei para casa, mais intrigado ainda... "uma garota que toma conta de um farol, que deve ter os ouvidos super sensiveis e escreve demais...." interessante...
passado uns dias encontro uma carta dela agradecendo a visita, e pedindo para ir visita-la sempre que eu quizer... apenas com uma condição... fazer menos barulho...
no fim da carta estava assinado... o silencio...
Esta nota é uma forma de creditar os diretos autorais.
As imagens contidas nesta postagem referem se a obra denominada "le scorpion" pertencentes aos autores Enrico Marini (arte) e Stephen Desberg (roteiro). não possuem o fim lucrativo, degradação da imagem do personagem e nem o intuito de roubo de direitos autorais.
Há 13 anos
5 comentários:
Homenageem ^^
gosteeei... uma garota chamada silêncio.. às vezes é bom tê-la como companhia...
mt bem bolado o conto, e fico lisongeada...
mesmo que poucas pessoas nos visitem né? aehuaehaueh
não desistiremos!
mt bom msm, mestre.. té breve!
;*
hoje é seu dia...hohoho PARABENS FESSÔ!!
Hm, uma busca interessante, é preciso ser muito curioso para apenas pensar em romper as barreiras do desconhecido, e ser muito intrépido para de fato chegar lá. Conhecer o(a) silêncio, o farol e os seus mistérios noturnos.
Ah, e dando um toque (por mais chato que possa parecer de minha parte): se não me engano, a licença Creative Commons já dá autorização para uso e adaptação do seu material (para fins não-comerciais e comunicando a autoria, claro)....
Um toque... nada além disso... No mais, parabéns atrasado para nós que tamos na labuta cotidiana de fazer a molecada captar "o espírito da coisa"... aloha!
tem selo pra vc la no blog...
Postar um comentário