Hoje faz um ano que eu não vejo Ele.
Sempre quis "ter um" desde que vi nas brumas de avalon, numa cena em que um cara entra dentro da taverna segurando três deles e esbravejando por toda parte.
Em fim, uma namorada minha me disse que tinha um na cidade.
comprei escondido de minha mãe, disse que já havia comprado a um mês.
e assim, dentro de todo esse cambalacho me veio a existência UM CACHORRO.
Péssimo aluno de literatura no auge dos meus 16 anos, só me lembrava de uma pessoa que a dona Ione falava nas aulas do Zilda Pinheiro a noite, um tal de Gregório de Matos. pensei: foda-se quem é.... esse vai ser o nome do meu cachorro e em fim esse foi o nome dele.
cuidei do Gregório durante muito tempo, mesmo minha mãe mandando trocar a água dele aos berros porque já estava quente ou mesmo o vizinho reclamando do fedor que estava a merda por todo o quintal de concreto, o bichinho ainda era meu... ainda era eu.
adolescente idiota que eu fui... nunca cuidei dele como merecia.
Tivemos momentos muito bons. passeava-mos de bicicleta. ele sempre puxava, era a natureza dele.
bebia pouca água, comia pouca ração. mas adorava pão! sabia até alguns truques para ganhar um.
nunca foi muito social. não gostava de muita gente... carinho e sentar perto? humpf... nem pensar.
se eu me sentava perto, ele "arredava" como um estranho no ponto de ônibus.
reconhecia meu assobio em qualquer canto. e quando ele fugiu por causa de um ou outro portão aberto... ah que merda.... era eu correr que o bixo disparava. não preciso dizer pra ninguém o quanto eu era ele e o quanto ele era eu.
Em fim... não caberia numa alexandria todos os relatos que eu tenho do meu lobo chamado Gregório.
mas tudo tem um início, meio e um fim.
por fim (e adiantando e muito pra não chorar) recordo-me com dor de como foi difícil entrar numa sala de aula naquela manhã de exato um ano atrás, onde todos e quais quer negligenciavam que aquele adulto que estava ali na frente da sala nada mais era do que um adolescente com o coração partido em mil pedaços porque perdeu uma parcela generosa do seu eu. Gregório havia partido, minutos atrás de uma manhã de segunda feira depois de uma severa convulsão. eu senti o seu coração parar de bater exatamente debaixo da minha mão enquanto segurava a pata dele. ele apenas contraiu um músculo do rosto, como se desse um belo sorriso e olhou para o nada.
me desculpem, mas desta vez, o choro é livre... sem ironias. porque agora eu também choro. e muito.