segunda-feira, 20 de setembro de 2010

[Cronicas da Taverna] : seria isso anacronismo?

Dos tempos em que ando melhor, toda taverna melhorou.

O lugar (hoje com nova cara) atrai novos bêbados, e novos lucros, e assim vou repondo o estoque assim que os barris secam.
ontem mesmo recebi uma nota que dois barris do Don José Cuervo chegará em breve sendo um em sua edição especial finíssima, e outro com a maravilhosa qualidade com que sempre produziu.

em fim, tudo anda muito bem nesta taverna, até as aranhas que nos tetos hoje tão altos estão com suas teias em dia... estou aguardando o dia em que as duas pilastras do meio se encontrarão pelas teias... aí sim as faço recomeçar novamente.

"engraçado como todo o trabalho de uma vida desmorona"

nesta noite, a taverna seguiu calma. Como é de costume, todos os domingos os marujos se recolhem em seus barcos com medo do famoso "código de bartolomeu" funcionar. e então a taverna fica aberta apenas para os que "esqueceram algo" sorrateiramente aparecerem.

e foi nessa que ele apareceu.

chegou com as mãos nos bolsos e se sentou próximo a janela.
era um moço consideravelmente mais novo que eu ... possivelmente uns dez anos...
alto, cabisbaixo, com a barba bem desenhada, com roupas pretas simples e limpas.

ficou um tempo sentado, mas logo se pôs de pé ao ver as estantes de livros, e se aproximou delas;
andava com as mãos para trás como um urubu se aproximava da carniça. olhava os livros bem de perto como se analisa-se muito mais que as letras douradas escrita nas lombadas dos livros, mas logo se inclinava como se estivesse se recompondo. e então sim se sentou novamente no mesmo lugar.

esperou me aproximar....
pelo que eu disse: - boa noite!
- boa noite, veja para mim por favor um taça de vinho tinto e suave.
- pois bem....

me virei e instantes depois retornei com o vinho que o moço havia pedido.
tão pouco terminei de coloca-lo na mesa, o jovem me indagou:
com licença, (sempre com uma voz um tanto tímida e cabisbaixo) o senhor poderia me conceder algumas folhas de papel e aquela pena que está em seu balcão?

confesso que este é o primeiro cliente que sirvo com um poder de observação tão grande, ainda mais por se assentar tão próximo da porta. por fim, acenei com a cabeça e fui buscar o tal pedido.
retornei com a pena e o bloco de notas e o moço a tomou de minhas mãos como se houvesse pegado algo vital. e com um gesto, maneando a cabeça, me agradeceu, mas nem me olhou novamente... disparou a escrever.

obviamente me interessou novamente a figura do tal jovem que além de observador era instruído entre as letras, o que nunca havia visitado esta humilde taverna, que fiquei a limpar as mesas ao redor apenas para observa-lo a escrever.

ora escrevia pouco, ora se esticava na cadeira, ora bicava a taça de vinho e ora escrevia muito... tal ciclo durou várias folhas até que aparentemente terminou.

não demorou muito e ele até que tomara mais rápido a taça de vinho terminando assim "sua missão". não me esperou ir até a mesa cobrar. fez questão de se levantar, voltar a cadeira para o lugar e a passos firmes e fortes se aproximar até o balcão. perguntou se aceitava qualquer tipo de moeda, pelo que respondi: "sendo verdadeiro qualquer ouro é bem vindo"; e então ele retirou um sactel de moedas de ouro e as espalhou pela mesa. era um ouro muito escuro pois dizia ele ter sido retirado dos locais por onde ele havia viajado recentemente. mas por fim... Era ouro mesmo.

pagou sem me pedir o valor, pois possivelmente já havia observado a tabela de preços e havia o separado em suas bolsas.

agradeci e disse que esta taverna estaria as ordens sempre que ele quisesse retornar (acrescentando o conselho de que aos domingos e segundas a noite eram horas oportunas e calmas de se escrever por aki).

ao que ele me agradeceu cordialmente a recepção. e disse que em breve estaria aqui novamente, pois tal lugar o inspirava.

animado, indaguei para que continuasse a frequentar e subliminarmente questionei o conteúdo de suas escritas.

mas antes que tal curiosidade viesse a ser revelada, ele respondera que era um professor (aqui nessas bandas?) e que estava apenas de passagem.


insisti novamente a saber o conteúdo da escrita para que pudesse aprender algo novo, mas ainda nas escadas e virando-se o tal jovem-professor me disse:

O que escrevo aqui, não são sobre os ensinos da mente, mas da alma.

tomei pela terceira vez outro susto por receber uma resposta tão certeira. mas como ele poderia me conhecer? não havia como instigar mais algum outro assunto com um cliente já a porta, ao que me deu apenas a oportunidade de perguntar quem ele era... mas não havia mais reposta... só uma grande porta fechada.



mas eu sei que ele voltará....

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